domingo, 28 de outubro de 2012

O SONO NOSSO DE CADA NOITE NOS DAI HOJE

Já falei mais de uma vez em posts sobre o medo que eu tenho em fazer deste blog o "Meu querido diário". Em vários deles detecto esta característica narrativa e descritiva - comum em agendas pré adolescentes- de acontecimentos da minha rotina de ex grávida e agora de pós parida com um bebê de 2 meses 1 semana e 3 dias em casa.
Mas falar das minhas experiências e descreve-las, falar do que sinto e o que passa pela minha cabeça nas várias e várias horas que me encontro sentada na poltrona de amamentação com Ian pendurado no bico de meu mamilo, naturalmente me aproxima do formato "meu querido diário".
Então... Vamos a ele!

"Meu querido diário!
Dia desses enquanto observava Ian sugando nosso leite, digo nosso porque sai do meu peito mas o leite é dele, me peguei pensando mais uma vez em quão ausente ando do blog "Meu trabalho é um Parto" e na quantidade de coisas que gostaria de escrever mas não tenho conseguido.
Uma profunda aflição me consumiu ao detectar que talvez nunca eu consiga relatar tudo que penso, reflito e NÃO CONCLUO durante as muitas horas de mamadas.
Talvez não dê tempo...
Talvez eu nunca mais na minha vida tenha tempo suficiente para escrever como gostaria.
Talvez eu  nunca mais consiga fazer muitas coisas que gostaria.
Agora eu tenho um filho.
Este filho depende de mim.
A minha vida já não é mais só minha assim como o meu leite que é mais dele do que meu.
Minha vida agora é do Ian.
Uma pausa para o choro, meu querido diário...
Puérperas choram...
Assim como as grávidas...
Preciso ir ao banheiro assoar o nariz que está pingando catarro assim como pinga leite do meu peito.
Já volto.
Pronto!
Assoei.
Fiquei de escrever tantas coisas que prometi na gravidez...
Talvez eu nunca escreva.
Talvez eu nunca mais tenha tempo.
Prometi escrever sobre como a memória de uma grávida fica comprometida e de contar casos das minhas experiências com a falta dela nos  nove meses de gestação (acabei não cumprindo com o que prometi em um post) e o tema MEMÓRIA DE UMA PUÉRPERA seria mais um tema a explorar.
Ahhhh meu querido diário como meu cérebro anda funcionando de forma desordenada e se encontra cheio de buracos e lacunas. Imagino meu cérebro como a lua e suas crateras ou uma peça de queijo Ermental.
Falta pedaços...
Além das ausências de memória de nomes de pessoas muito próximas, de fazer telefonemas prometidos, de fazer favores domésticos pedidos pelo marido entre vários outros exemplos que não vem ao caso citar, uma enorme ausência de memória dos primeiros dias e noites após a chegada da maternidade me faz lamentar existir, ou não existir já que estamos falando de ausência, dentro de mim.
Chegar em casa da maternidade com uma nova criatura é algo tão sublime, mágico, poético, lúdico, entorpecente e  também completamente LOUCO que a sensação que tenho hoje ao tentar lembrar das primeiras noites dormidas em casa é de um longo sonho nublado, embaçado e desfocado.
Se não fossem as fotos, os vídeos feitos em câmeras e celulares eu não teria como lembrar do rostinho e corpinho de Ian neste início de vida. Não tenho a memória visual do seu crescimento de 3,200 Kg e 49 cm que foram o peso e altura que ele saiu da "fábrica de parto", para os 60 cm e 7,050 kg  que hoje se encontram depositados principalmente em suas bochechas e cochas.
Tenho a impressão de que nunca tive um bebezinho em casa e que de repente a Dona Cegonha tocou minha campainha com o bebezão que Ian se tornou em tão pouco tempo, colocou-o nos meus braços e se mandou para o NOSSO LAR.
2 meses 1 semana e 3 dias de vida.
O que significa isso diante uma vida inteira que ele tem pela frente?
Nada e tanto...
Dois meses é quase um quarto do que ele passou dentro de mim ou seja; nada.
Mas foram nestes 2 meses que ele está mamando o suficiente para ficar forte e saudável e criar imunidades necessárias para aguentar uma vida toda de vermes, vírus e bactérias  que ele tem pela frente.
Apesar dos 2 meses e 10 dias parece estarmos juntos há muitos anos. Nossa convivência e tão profunda e intensa que apesar de ainda não nos conhecermos muito bem muitas vezes sinto que nunca nos desgrudamos e que eu já conheço ele de algum lugar.
Olho para ele e penso: " parece que já tinha te visto em algum lugar !"
O céu talvez.
Ou no NOSSO LAR para onde a Dona Cegonha que o deixou  aqui em  casa voltou depois de fazer a sua entrega.
Nunca convivi com ninguém de forma tão ininterrupta como hoje convivo com Ian. A não ser com minha mãe quando eu ocupava o posto de "sugadora voraz" de suas tetas.
Mas disso eu não me lembro.
Acordar no meio da noite para colocá-lo acoplado em meus seios, ou não dormir uma noite inteira participando de suas aventuras variadas das madrugadas inesplicávelmente " mágicas" é uma experiência muito interessante de ser relatar.
O que acontece na madrugada ?
O que ela proporciona para os bebês a ponto das mães poderem escrever filmes, livros e peças de teatro sobre o assunto ?
Ian teve uma fase que parecia ser 2.  Ian do dia e Ian da madrugada.
Mas do meu Rebentinho não posso reclamar. Diante milhares de casos que ouço na vida, nos blogs e sites, Ian no fim das contas tem saldo positivo total.
Já o meu saldo que muitas vezes questionei, e continuo questionando, tenho duvidas se vem sendo positivo como mãe e cuidadora.
Ouvi muitas vezes a frase "SER MÃE É TER CULPA" quando estava escrevendo "Meu Trabalho é um Parto" e hoje é da minha boca que ela sai.
Em tudo que se refere a questão sono noturno/mamadas e nosso comportamento em relação a isso existe uma pitada de dúvida seguida de culpa.
Os vários livros como o famoso NANA NENÊ foram lidos, o meu livro interno do bom senso é consultado diariamente, o livro interno da capacidade de suportar ver seu filho chorar no berço implorando por você também vem sendo foleado e nunca sei se estamos fazendo a coisa certa.
Isso é desgastante de um jeito que minha alma parece ser corroída pelos meus remorsos.
Deixei Ian chorar no berço algumas vezes acreditando estar fazendo um bem para nós. Aquela velha história de os meios justificando os fins.
Nunca tinha vivido a privação do sono apesar de ter tido na gravidez uma fase de insônia que já havia me dado uma colherada de noção da dificuldade que é.
Não dormir  ou dormir muito mal é algo enlouquecedor e minha obsessão em "treinar" Ian para dormir bem teve início antes dele completar um mês e se estende até hoje.
Agora de forma um pouco menos neurótica.
Mas o assunto DORMIR está em mim.
Se ele dorme bem, eu durmo bem, Galdino dorme bem e a vida é boa.
Se ele dorme mal ou não dorme, ninguém dorme e a vida fica muito , muito muito chata e desagradável e achar a vida chata e desagradável quando se tem um filho tão desejado e esperado em casa é muito frustrante.
Passei dez dias praticamente sem dormir e me tornei um zumbi odioso e odiável achando a vida algo meio sem sentido.
Imaginem que difícil achar e sentir da forma mais intensa e genuína que a vida é uma idiotice com um filho no peito ?
É dual de mais.
É doloroso, dolorido, sofredor...
Mas a falta de sono faz isso. Subverte e inverte os sentidos da vida e assim pensando eu obcequei em treinar Ian desde seu primeiro mês de vida a dormir bem para que possamos ter uma vida feliz pela frente.
E aí vem a angústia por nunca saber o que é melhor. Todas as informações lidas nos livros das livrarias e os internos se misturaram dentro de mim junto as informações do Dr. Google e das amigas, me oferecendo uma salada de dúvida, medo e culpa.
O berço de Ian se encontra em nosso quarto.
Isso é considerado inadequado por muitos livros, pediatras e psicólogos. Desaconselhado por várias linhas de pensadores  e estudiosos do assunto.
Vivo em uma casa de arquitetura "Pós Classe Pobre Ascendente a Média com anseios a nova Média pós mandato Lulista Neo Popular Operária" de um bairro muito louco chamado Vila Anglo Brasileira.
Fica atrás da Avenida Pompéia.
Os antigos donos, em quem pensei junto a toda minha vizinhança  para criar esse nome da arquitetura da minha casa, foram construindo uns puxadinhos no decorrer de sua passagem por aqui.
Não rolou nenhuma lage, mas puxaram a casa para cima na parte dos fundos onde ficam o quarto e banheiro do Ian e nosso escritório. O quarto do casal que é imenso fica na parte de baixo da casa.
Se Ian dormisse em seu quarto eu teria uma sala, uma cozinha, banheiro, camarim, closet, corredor e uma escada entre nós durante a noite.
Seria essa a distância do bico do meu peito até sua boca. Sem contar alguns centímetros a mais da grade do berço.
Impossível viver assim na madrugada.
Impossível suportar essa distância de meu Rebento e uma babá eletrônica com câmera ligada na mesinha de cabeceira promovendo uma imagem quase nítida e ruídos amplificados pela tecnologia chinesa durante o decorrer da noite.
Seria mais enlouquecedor do que a culpa que carrego de estar fazendo "a coisa errada" já que a maioria diz que ter o bebê no quarto não é adequado no treino ao bom sono e de outras coisas mais na formação de um ser.
Minha loucura de dez dias sem dormir me levou a uma oficina de Shantala, a literatura moderna capitalista  e questionável do mercado para mães e bebês e a ter várias brigas com meu amor.
Quem não dorme perde noção do bom senso e da educação e várias vezes fui grossa e arredia com Galdino o que nos levou a discuções.
Impus regras e dei ordens sempre almejando o sono ideal para a família e cada vez que quebramos as leis determinadas por mim tivemos debates acirrados onde expusemos nossas opiniões às fórmulas indicadas pelos livros. Muitas vezes as opiniões são divergentes o que acarreta em briga.
Ian já sabe qual a hora de dormir. Já temos a rotina da noite que começa com Shantala, passa pelo banho de balde, pelo meu peito ( de novo, sempre...) e termina no berço.
Tem dado certo.
Mas semana passada tivemos 3 noites seguidas de Ian ligado no 220 ás 4:00 da madrugada sorrindo e querendo brincar após uma das mamadas.
Na vida do bebê, que tenho a impressão de ser um saco, sono e fome estão diretamente relacionadas e daí de novo a dúvida em relação a forma de aleitar em função do sono.
Livre demanda está "na moda" e me parece ser a decisão mais acertada no que se refere a alimentação de um bebê. Mas não estipular horário nenhum para dar de mamar pode ser um problema sério na vida de uma mãe e de um casal.
Na vida do sono.
Do meu acupunturista ouvi que eu tinha que treinar Ian para mamar de 3 em 3 horas  por 500 motivos que não estou com paciência para escrever aqui.
Ele me convenceu.
Voltei para casa decidida a deixar Ian chorar de fome por 1 hora  naquele dia que seria o início do novo treino.
É horrível ver um bebê chorando de fome.
É horrível a culpa que se carrega por deixar um bebê chorar de fome com 2 tetas transbordando leite.
Depois li um artigo ótimo na internet sobre a livre demanda e passei a achar meu acupunturista um idiota e voltei atrás com a forma "da moda".
Dias depois conversando com o pediatra entrei em conflito novamente e comecei a angustiar de novo.
A dúvida é cruel.
Opinião de mais nos enlouquece.
Depois veio o questionamento CHUPETA.
Ouvi de muita gente que a chupeta nos ajudaria a ter noites mais tranquilas, que ela proporcionaria intervalos maiores entre uma mamada e outra já que algumas vezes eles querem peito só para chupetar.
E lá fui eu de novo ler sobre chupetas.
E lá fui eu ler sobre psicomotricidade.
E lá fui eu ler sobre todos os comportamentos possíveis de um bebê até 3 meses de vida.
E lá fui eu ler o EVANGÉLIO SEGUNDO ALAN KARDEC para poder encontrar um pouco de paz no meu coração.
E mesmo depois de definir como agir em cada caso, a dúvida de estar fazendo ou não a coisa certa sempre bate na porta e muitas vezes acompanhada da amiga Culpa, do primo Remorso e do namorado Arrependimento.
No dia que Ian completou exatos 2 meses fomos tomar as vacinas indicadas para a fase.
Tenho um marido que odeia remédios.
Sou uma mulher que curte uma droguinha legalizada.
Ao voltar para casa do posto de saúde Ian mamou dormiu um pouco e quando acordou começou a chorar.
Chorar muito. Muito. Muito!
Ian é um bebê que não chora. Para conseguir o que quer resmunga.
Neste dia pude detectar sua capacidade "berral".
É grande.
E sofri.
Chorei junto.
Só não berrei como ele para não fazer daquela tarde um terror vespertino.
Galdino me deu uma bronca e disse que seria difícil ter que cuidar de dois.
Liguei para o pediatra depois de meia hora de lágrimas e ele disse para fazer compressa de água fria nas perninhas e que se a dorzinha não passasse para dar Tylenol.
Eu teria dado Tylenol de cara mas Galdino odeia remédios.
Ficamos quase 40 minutos insistindo na compressa e ele berrando de dor.
A língua tremia.
Pude conhecer seu céu da boca onde o bico do meu peito muitas vezes se acomoda.
" Ahhh, é lá que meu bico dorme!"
Até o momento que Galdino me disse : " Está bem ! Eu me rendo! Pode dar o Tylenol."
Em menos de 5 minutos ele parou de chorar, se acalmou e dormiu. Aliás chapou.
Além da reação ao remédio, a exaustão do choro.
Para que deixar uma criança chorar por mais de uma hora de dor ?
Desta vez a amiga Culpa e o primo Remorso bateram na porta da consciência do meu amor.
Ian nunca mais vai chorar de dor depois de tomar vacina.
Será chegar em casa na volta do posto de saúde e tomar Tylenol.
Hoje ele não quis receber Shantala, meu querido diário.
Fico frustrada quando não realizo o ritual do sono completo. Já fique mais em outros dias que ele não esteve a fim de ser massageado por todo seu corpinho de pele de manteiga.
Pele de nenê parece de golfinho...
Lisinho...
Preciso respeitá-lo.
Preciso compreender que ele já faz escolhas.
O primeiro banho de balde foi frustrante de mais para mim. Eu estava no auge da busca pelas fórmulas do bom sono e achei que o balde seria a solução. Foi a fase que ele acordava ás 2 da manhã e ia até ás 9:00 dormindo 15 minutos e mamando 1 hora, dormindo mais 20 minutos e reclamando de gases estagnados por mais 2 horas, dormindo mais 30 minutos e querendo brincar por mais uma hora e meia e assim passamos 10 noites de nossas vidas das 2:00 ás 9:00 que era quando ele parecia voltar ao normal.
Foi aí que enlouqueci.
Foram esse 10 dias que meu corpo conheceu minhas olheiras que começaram em baixo dos olhos, atravessaram a bochecha, passaram pelo pescoço, desceram pela barriga e foram parar no pé depois de estacionarem por alguns dias nos joelhos.
Estava super esperançosa por uma noite de sono com mamadas de duas em duas horas e acreditei de fato que o banho de balde resolveria a questão.
Ele chorou assim que seu pés tocaram a água.
Ele adora banho.
Nunca chora.
O banho não rolou e eu fiquei muito muito muito triste.
Mas insisti na idéia e deu certo !  Vivaaaaaaa ! Ian adora o banho de balde. Fica viajandão... é lindo de ver.
Hoje fez calor de mais meu querido amigo diário... E hoje o Serra perdeu mais uma eleição.
O Serra perde muitas eleições né ?
Será que ele fica  tão frustrado e triste a cada derrota assim como eu fiquei com o banho de balde sem sucesso?
Tem que ter muita resistência emocional para ser político.
Tem que ter muita resistência emocional para ser mãe.
A maternidade assim como a política é para os resistentes.
Hoje chorei ao ver Faustão.
É amigo diário, mudei de assunto!
Teve "Arquivo Confidencial" com a Adriana Esteves que ainda está vivendo  a glória de Carminha e colhendo os louros e aplausos do Brasil.
Fiquei feliz a beça por ela que todos dizem ser uma pessoa muito legal e merecedora do que está vivendo.
Mas tive inveja também.
Tudo que eu mais sempre quis para minha carreira é o que ela está vivendo.
Talvez eu  nunca mais tenha tempo para conquistar meu lugar ao sol  na Rede Globo e no coração de milhares de telespectadores.
Talvez eu nunca mais consiga fazer muitas coisas que gostaria.
Talvez eu nunca mais tenha tempo...
E ao olhar para o carinha do Ian que ao meu lado se distraia com a luz da televisão eu me senti muito culpada por estar chorando na frente dele, por estar sentindo o que estava sentindo que está diretamente relacionado a o fato de hoje ele existir e me senti culpada por já ter apresentado a máquina televisão para ele.
Ser mãe é ter culpa.
Assim me despeço de mais um post com idéias confusas e nubladas assim como minha memórias dos primeiros dias de Ian em minha vida, com pena do Serra, de mim, da minha coluna  que carrega  7 Kg de Rebento e cheia de saudades do Ian que dorme em seu berço.
Aquele que me culpo por talvez estar em lugar errado.
Luto diáriamente para que ele durma na hora certa e bem, e quando ele dorme minha existência fica meio sem sentido e tudo que eu quero é que ele acorde para que eu me sinta útil e com alguma função no mundo.
A rede Globo nunca me quis, mas o Ian prercisa de mim."