sábado, 21 de abril de 2012

Perdas e Partos 2 ou : Preciso falar com o JÔ ou : Interrogações de uma vida de "comos" e "por ques".

Era 21:21 hs de quarta feira dia 18 de Abril. Eu estava assistindo a novela "Avenida Brasil" quando chegou um torpedo avisando uma chamada perdida de um número que desconheço.
"Quem será que me ligou na hora da minha novela?"
A cada capítulo de "Avenida Brasil" agradeço por telepatia João Emanoel Carneiro por me presentear na gravidez com uma novela tão bem escrita. Grávidas ficam muito em casa e o horário da novela das 9 é momento de recolhimento, pernas para cima ( de novo as varizes) e muitas lágrimas nas cenas de amor dos protagonistas mirins e adultos.
Liguei para o telefone indicado no torpedo: REDE GLOBO.
"Oi, boa noite. Me ligaram aí da Globo, quem foi heim ?"
Não tem como saber quem,  nem de que programa me ligaram , a ligação cai na central com a telefonista.
Ela foi simpática e disse que infelizmente não tinha como ajudar.
Na hora minha cabeça entrou em ação tentando decifrar o mistério e as possibilidades.
"Ah !! Dever ter sido a Renata , produtora do Jô, ou o Zeca Bittencourt do elenco!"
Tudo passou pela minha cabeça, a possibilidade de um convite para uma nova entrevista agora que estou grávida, ou para falar do livro que foi lançado pela Giostri, o teste para um trabalho ou renovação de material  de vídeo...
Enquanto procurava o telefone da Renata, liga um dos "padrinhos do PARTO", Douglas Picchetti, e diz que tinha acabado de receber um telefone do Jô Soares, que ele estava me procurando para fazer um convite de trabalho; o novo espetáculo que ele vai dirigir. Mas soube que estou grávida e só queria confirmar  e dizer que ficava muito feliz pela minha conquista.
"Meu Deus, que loucura Doug, estava ligando para a Globo e para a Renata agora! Como o telefone não tocou ? Como uma chamada perdida? Como um convite nestas proporções (em vários sentidos, afinal estamos falando do JÔ)  na situação em que me encontro; GRÁVIDA ? Como não falar com ele ao telefone? Como ? Como ? Como ? Como ? Como ? Por que ? Por que ? Por que ? Por que ? Por que ?"
Ligo na sequência para a Globo de novo.
- Telefonista. Foi o Jô quem me ligou ! Pode uma coisa dessas ? Tem como eu falar com ele? Me ajuda , não é qualquer dia que recebemos um telefonema do JÔ.
Ela foi super simpática, ligou para o fixo da sala dele, já não estava mais. Me disse que a gravação tinha acabado de terminar. Me deu o número e disse para ligar semana que vem. Quinta ele não grava.
Liguei para a  Renata, é o único canal de contato que tenho. Ela não atende. Penso em Cássio Scapin. " Como? o telefone dele sumiu da agenda do meu celular?"  Mais um "Como" , mais um " Por que".
Mandei então um torpedo para a Renata e deixei um recado de voz na caixa postal.
Grávida louca insistente.
E tudo isso na companhia do meu amor que teve que aguentar depois os lamentos e as lágrimas.
" Não é possível! Preciso falar com o Jô. Ele tem que saber que eu soube que ele me quis ! Que ele pensou , lembrou de mim para uma peça. Ele disse! Ele falou ao final da entrevista no cenário do programa que um dia ainda trabalharíamos juntos. Chegou a hora ! Mas não chegou... Não posso, tô grávida. Ninguém quer uma grávida para trabalhar."
Resolvi escrever um e-mail para a Renata. Preciso do endereço eletrônico do Jô. Meu celular ficou na parte de baixo da casa e eis que quando eu estava finalizando a mensagem, o celular toca. Era a Renata. Meu celular fala o nome de quem está ligando dos registrados da bina com uma voz ridícula eletrônica no meio de uma música mais eletrônica e ridícula ainda. "Por que escolhi esse toque ridículo para meu celular?"
Saí correndo, desci as escadas de forma "nada grávida".
-  Oi Rê! Estava te mandando um e-mail agora, grávida insistente! Cê viu que história louca?  Sou expulsa do Renaissance a semana passada, passo essa implorando a Deus um prêmio de consolação e ele me manda o prêmio pela metade. Uma chamada que não se completa, um convite que não tenho como aceitar... Que loucura !!!
- O prêmio de consolação não veio pela metade não Veri, olha quem está do meu lado e quer falar!
- JÔ !!! Ai Jôôôôôô... Que delícia, que loucura...
- Veri, fico muito feliz pela sua gravidez e triste de você não poder fazer a peça. Quando o nenê nasce?
- Em agosto Jô...
- É, não tem como você fazer a peça mesmo. Mas eu desejo muita sorte para você. Outras oportunidades virão.
- Eu sei Jô. Você me disse no dia da gravação da entrevista que íamos trabalhar juntos, eu acreditei e você cumpriu! Tenho um novo projeto e só consigo pensar em você para me dirigir. MUITO OBRIGADA viu ?
- Beijo do GORDO !
"Meu Deus , meu Deus , meu Deus , meu Deus o Jô me ligou ! Falei com o Jô por telefone. Ele me convidou para fazer uma peça e eu não posso"
Meu marido perguntou qual o texto, o papel, que teatro e eu não sabia responder nada. Não quis saber, não vem ao caso agora, saber tudo isso seria aumentar a minha dor.
Aí começam as indagações, a elucubração  o questionamento com o Divino, com o Universo.
Por que ?  Por que só gora esse convite? Por que não antes? Por que não depois ?
Escrevo uma peça para poder trabalhar na gravidez já que atrizes grávidas não globais não tem como ganhar a vida na gestação.
Engravido e meu projeto é indeferido no Proac. Entro com recurso, refaço orçamento e fico sabendo que o projeto será aprovado no dia que sei que o bebê havia morrido dentro de  mim, seu coração estava parado.
Engravido de novo e fico sabendo que a Kimberly quer me patrocinar. Perco outro bebê.
Sai o patrocínio. Estreio sem estar grávida. Ganho lá um dinheirinho, guardo para o tempo de vacas magras ( ou grávidas gordas), engravido. Sou convidada para ir para o Renaissance e vou sem patrocínio sem mídia e muita ajuda de parceiros. Não ganho um tostão furado. Minha temporada é interrompida no Renaissance e de um dia para outro não estou mais em cartaz e em seguida vem um telefonema assim ?
Para me fazer ter certeza de que ninguém quer uma pançuda para trabalhar, nem mesmo o GORDO ...
Para quem viu " Meu trabalho é um Parto" sabe o sentido que tudo isso tem. Eu começo a peça sendo recusada em um teste de  trabalho por estar grávida e saio pedindo emprego para o público.
"Oi, você não teria um emprego para me dar ?"
Nestas horas colo de marido, ombro de mãe e mensagem de amigos é o que conforta além de Fé.
E paciência. Temos que ter. Esperar esperar e esperar. Afinal, esperança é a última que morre.
Vamos esperar o meu nenê nascer, cuidar, amar, ver crescer e depois voltar a trabalhar.
Ainda bem que a telefonista da Globo me deu o telefone da sala dele.
Já tenho para onde ligar assim que Ian desmamar, desfraldar, des des des...
- Alô, JÔ !!! Você tem um emprego para me dar. O Ian já nasceu e já não sou mais uma grávida. Você me quer para trabalhar?
Tenho mais essa história para contar no livro "A história das histórias de meu trabalho é um parto" que está no forno. E que o Ian nunca se sinta culpado por me impedir de trabalhar com o Jô neste momento da minha vida. Tadinho... ele não tem culpa de nada; o meu anjinho.
Mas as novidades deste dia não acabaram:
Tem o segundo telefonema, aquele que me fez "dar de mamar" ao blog com mais afinco, e esse fica para a próxima mamada.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

PERDAS E PARTOS

Essa semana começou "lacrimosa" e melancólica para mim. Através de um e-mail pouco simpático e cuidadoso, recebi a notícia de que minha temporada no Renaissance estava encerrada.
Mas como assim ? Havíamos combinado a prorrogação da peça, não o término. Eu ia assinar contrato !!!
"É meu bem, ia... Não vai mais ! Quem mandou confiar na palavra de pessoas que são desafeto de muitos, gente que coleciona inimigos e processos na justiça? "
Tenho o péssimo hábito de confiar na palavra mesmo de quem não confio. Talvez me ache importante o suficiente para acreditar que COMIGO NÃO.
Ledo engado.
COMIGO SIM !
Um dia antes de me apresentar, que pecado! Tiveram 12 dias para me comunicarem a decisão de não manterem a peça em cartaz e só fizeram isso um dia antes da apresentação daquele fim de semana.
"Haverá um evento que está marcado desde novembro do ano passado."
E por que não me avisaram quando combinamos que a temporada seria prorrogada ?
Que sacanagem, não se faz isso com ninguém muito menos com uma Grávida !
Ingressos vendidos, novos contratos de parceria assinados, novas promoções divulgadas, Revista VEJA, Folha e Estado anunciando apresentação normal e uma correria desenfreada para avisar todo mundo da rasteira que levei.
Que tristeza  ter feito a última apresentação sem saber que era a última, que tristeza interromper um processo que justificava a existência da peça; a necessidade e desejo de trabalhar durante a minha gravidez.
E agora ? O que vou fazer ? Vou espalhar aos 7 ventos quem são esses sacanas, ordinários, mau caráter, desonestos, descomprometidos, desnecessários. Irei a imprensa, vou contar para todo mundo os podres que sei sobre eles e sobre a CULT, empresa que são donos. Dívidas, trambiques, mentiras. Sei de muita história errada, não posso ficar calada, alguma coisa tenho que fazer.
" Você não vai fazer nada Veridiana, agora é hora de não fazer nada. Você está grávida, tem algo muito mais importante para se preocupar, seu filho, o Ian que está na sua barriga e não merece uma mãe louca por vingança criando ódio e rancor no coração. Os caras são bandidos e todo mundo sabe, não é novidade para ninguém. Não sofreram consequência alguma das sacanagens que fazem até agora sendo que já aprontaram coisa muito pior, não vai adiantar nada. O universo se encarrega de dar o troco."
Entendo, concordo mas o universo já está encarregado de dar troco em muita gente. Ele não vai ter tempo para o meu caso. É "brasileirismo" de mais aceitar a coisa como está, achar que não vai adiantar nada e ficar de braços cruzados. No meu caso de braços cruzados e pernas para cima por causa das varizes da gravidez.
O Brasil está como está porque a corrupção, sacanagem e falta de vergonha na cara começa de baixo, e nunca ninguém faz nada, não posso aceitar !!!!!!!!!!!!!
Deixei o desejo de vingança de lado em banho Maria.
Vamos cuidar então do meu nenê que está aqui empurrando tudo, me proporcionando uma relação de muita intimidade com meus sucos gástricos e com meus hormônios. Vamos cuidar do quartinho dele que ainda está desarrumado, sem decoração, sem cuidados. Vamos no Buddha fazer drenagem , na academia cuidar dos quilos e na Vilma receber massagem no sacro.
Que delícia VILMA !!
Ela começou colocando a mão na barriga e o Ian desembestou a dança dentro de mim, mas quando começou a massagear de fato e mexer em pontos de DO IN...
Meu Deus, o Ian vai sair pela boca Vilma!
A melhor parte de uma gravidez é sentir o nenê se mexer. Principalmente no meus caso que já vivi perdas e carrego de alguma forma, mesmo que pequeno, o "fantasma do medo". Sentir o nenê mexer é saber que ele está VIVO.
MEXE MESMO IAN MEXE PARA A MAMÃE FICAR TRANQUILA.
Depois de uma hora e maia com Vilma, volto ao meu lar relaxada e feliz pensando que está tudo bem, que tudo será bom e que Deus não nos dá uma cruz mais pesada do que podemos carregar e que a minha é mais leve do que a de muitos nesse mundão a fora.
O que eu não sabia era o que Ele estava reservando para mim, dois telefonemas. Um que mexeria estruturalmente com minhas emoções. O outro que me faria sentar na frente do computador e dar uma atenção a este BLOG, alimentar este "filho" um pouco rejeitado por falta de tempo, mas também muito amado como a  PEÇA e o  LIVRO, os "outros filhos".
Filhos do PARTO.
Sobre o telefonema que mexeu com minhas emoções eu deixo para depois, afinal alimentamos nossos filhos de horas em horas , todos os dias, para sempre...
E a  próxima "mamada do Blog" será reservada para as interrogações.
Muitos "Por ques" pela frente, assuntos suficientes para muitas refeições e motivo para a necessidade de muito DO IN.