segunda-feira, 27 de agosto de 2012

PARIR OU PARIR: EIS A QUESTÃO...

Para quem acompanha esse BLOG com cara de "meu querido diário" ( ai ai ai como eu temia que isso acontecesse, um BLOG com cara de "meu querido diário"- e aconteceu! ), esse post talvez comece de forma um tanto frustrante já que não vou sair revelando de cara a grande aventura que foi PARIR sexta feira da semana retrasada, dia 17 de Agosto, na Maternidade São Luiz, em um parto induzido com muita gente em alerta, na expectativa, torcendo e rezando para que tudo corresse bem na chegada de Ian.
Aproveito a oportunidade e agradeço desde já todo o carinho, atenção, orações e boas vibrações mandadas durante a semana passada por todos vocês, que de alguma forma vivem um pouco das minhas ansiedades e anseios através das leituras que esse espaço virtual proporciona.
MUITO OBRIGADA POR TUDO!
Antes do meu REBENTO chegar até meus braços ainda vivi uma série de emoções que vale a pena serem relatadas. Mas... Onde é que estávamos mesmo ? Onde foi que parei ? Aliás; onde foi que paramos já que estamos juntos nesta jornada !
Ah ! Passei no consultório do meu médico na quarta dia 15 e aceitei que ele descolasse minha bolsa na tentativa de entrar em trabalho de parto naquela noite.
Fui ao cinema, tive acesso de riso com Roberto Benigni em "Para Roma com Amor" e achei que Ian nasceria no cinema.
Não ! Ele não nasceu!
A tal da bolsa descolada não me deu nem cólica. Nada !
Quinta pela manhã recebi a visita de uma grande amiga e ex cunhada. Luciana Barros que viu o início da minha história com meu amor, lá no Morro de São Paulo há quase nove anos...
Lú ia comemorar seu casamento com Mário no sábado e veio buscar o top do meu vestido de noiva que fui eu que fiz. Todo de fuxico e inteiro bordado com pedrarias.
Meu ex namorado e seu irmão, foi a último homem com quem estive antes de Galdino. Muito do que ele transferiu para mim em relação às suas crenças sobre a vida, casamento, desenvolvimento de uma relação de amor e construção de uma família me fez repensar o que eu queria para mim. Na época eu estava fazendo análise 4 vezes por semana e na sala de terapia meu psicanalista também insistia no assunto  "DESENVOLVIMENTO DE UMA RELAÇÃO DE AMOR".
Eu dizia para ele que eu queria querer sossegar o pito, parar de pular de galho em galho, deitar de cama em cama e fazer da vida uma grande festa de mesclas e misturas sexuais. Mas que no fundo eu ainda não queria...
Quando terminei meu namoro com o Capitão, irmão da Lú, eu pensei: " Ué... Com quem vou desenvolver minha relação de amor agora?"
Foi aí que percebi que algo de novo tinha sido despertado em mim. Eu não só queria querer. Agora eu queria de fato.
Hoje Capitão é  casado com a Fê, uma moça linda, professora de Yôga que engravidou do Capitão provavelmente na mesma semana que eu de Galdino. Passamos a gravidez fazendo os mesmos cálculos. A previsão de nascimento de Alice era para alguns dias depois de Ian.
Na visita em que Lú me fez contou que estava um pouco agoniada com o fato do irmão e da cunhada quererem fazer parto domiciliar.
Depois do almoço meu amor me levou para ver a exposição dos Impressionistas no CCBB no centro da cidade. Fomos de metrô e eu fiz questão de ir com uma roupa que mostrasse bem a minha linda e lustrosa barriga, coisa que não fiz durante a gravidez. Usei roupas bem discretas o que nem combina muito comigo.
Uma grávida é sempre um evento e no centro de São Paulo não foi diferente. Eu passava e as pessoas me olhavam como se eu fosse uma celebridade e como barriga de grávida é patrimônio público, na fila preferêncial para a entrada na exposição uma senhora não exitou em dar aquela acariciada na casinha do Ian.
Foi bom admirar as pinturas e pensar que ver arte da melhor qualidade seria a última atividade de entretenimento antes de dar a luz.
Tomei sorvete de iogurte na saída e passeamos felizes pelo centro com a tarde linda ensolarada caindo e me relembrando a passagem do tempo. Estávamos a cada segundo mais próximos da chegada do nosso filho.
Pegamos o metrô de volta com destino SUMARÉ onde deixamos nosso carro estacionado, e fomos fazer a nossa última "boquinha/licença gastronômica". O destino agora era o Mc Donald´s da Cerro Corá onde comemos um Triple Chease Burguer e depois paramos na  padaria Letícia para comprar torta de morango e levar para comer em casa.
Ligar para a Vilma era o único compromisso inadiável e importantíssimo para aquela noite.
Comecei a explicar para ela como havia sido minha semana e o que eu tinha decidido fazer da vida como uma adolescente que faz coisa errada e conta uma longa história aos pais até chegar no ponto X.
Vilma me disse:
-Veri, a melhor coisa que você tem a fazer é aquela que você é capaz. Se você não se sente capaz de de esperar mais, induzir o parto amanhã é o que você pode fazer de melhor por você.
-Ai meu Deus que alívio ouvir isso de você Vilma !!! É capaz de Ian nascer essa noite de tão aliviada que estou. Te amo. Obrigada !
Como todos já sabem, Ian não nasceu naquela noite... A tal da bolsa descolada não serviu de nada! Nem o alívio de falar para Vilma das minhas decisões mesmo que tardiamente.
Na manhã de sexta feira liguei para minha amiga Luiza Gottschalk que havia ido para a Pro Matre iniciar a indução do parto de Nina pela manhã. A maternidade estava cheia e durante 2 horas ela ficou esperando um leito. Combinamos de ficar em contato o máximo possível. Não é todo dia que parimos "ao mesmo tempo" que uma grande e muito querida amiga!
Em seguida fui ao Buddha SPA fazer a última drenagem com Ian habitando meu interior. A fisioterapeuta que me atendeu ainda insistiu em mexer em pontos do meu corpo na esperança de colaborar com as contrações. Como todos já sabem, Ian não nasceu na maca do Buddha SPA.
Depois de pegar meu amor no metrô que terminou sua aula mais cedo dispensando os alunos pela última vez como "pai de barriga", almoçamos e fomos para casa de minha mãe onde deixamos nosso carro.
Ela nos levou até a maternidade São Luiz.
-Tchau mã ! Vai para casa dar um tempinho e volta mais tarde porque vai demorar. A indução começa só ás 16:00 hs e não tem para quê você ficar aqui gastando estacionamento com valor em ouro.
Na "fábrica de partos"  a burocracia é tão volumosa  quanto em qualquer fábrica deste país e durante uns 20 minutos eu assinei papéis e autorizei coisas como a transmissão do meu parto  ao vivo via web. O código para o acesso da internet era algo que me interessava muito já que em São Paulo, Goiânia, Santos, São Vicente e São José do Rio Preto tinha um grupo considerável de "webspectadores" aguardando a tal senha chegar por torpedo como eu havia prometido.
Saindo da sala de cardio toco onde mais uma vez fui confirmar as batidas vigorosas do coração de Ian, sou surpreendida pela imagem de Galdino abraçando Capitão na recepção da maternidade.
Eles haviam acabado de chegar de um trânsito da Raposo Tavares onde uma motoqueira decidida a ser o anjo do casal naquela sexta dia 17 de Agosto, foi abrindo o caminho para Capitão, Fernanda e Alice dentro do carro onde uma bola de Pilates também acompanhava a saga do trabalho de parto no trânsito da grande São Paulo. Até o DSV entrou em ação e eles chegaram ao Itaim com Fê se contorcendo devido às contrações que vinham lhe atormentando a vida desde terça feira. Capitcha, que é a forma como lhe chamo, estava esgotado! Seus olhos denunciavam as três noites não dormidas e sua exaustão de marido em trabalho de parto conjugal.
Quem diria ! Eu e a mulher do meu ex e último namorado antes de Galdino entrar na minha vida para ficar, espero que para sempre, parindo na mesma maternidade e no mesmo dia.
Logo uma enfermeira apareceu dizendo que eu deveria acompanhá-la. Galdino ficou com nossa bagagem - Sim! Bagagem! Parecia que estávamos indo para um resort em Cancun equipados de malas e malinhas organizadamente dispostas no carrinho de aeroporto - e depois que ele deixasse tudo em nossa suite, seguiria para a sala de pré parto adequadamente vestido com seu figurino de papai. As enfermeiras fazem questão de nos chamar assim o tempo todo. Papai e Mamãe.
Gosto tanto do meu nome! Prefiro ser chamada de Veridiana ao invés de entrar no "coletivo generalizado" que já me prepara para o mundo da maternidade nas escolas, escolinha de natação, sala de espera do pediatra... Todo mundo é papai e mamãe.
Tenho um pouco de preguiça disso.
Chegando na sala de pré parto a enfermeira deu meu figurino de parideira, e logo veio com as agulhas por onde minha veia receberia a tão famosa ocitocina que eu estava louca para saber como reagiria em mim.
Bora lá tomar aquilo que parece não ser fabricado pelo meu corpo da forma ideal !!!!
Logo Galdino apareceu paramentado e munido de nossas câmeras. Ele registraria o grotesco e a Publivídeo o poético.
Detectando que estava com fome, meu amor decidiu  forrar seu estômago já reagente às grandes emoções que estavam por vir. Um parto, por mais sem graça que seja, é sempre um espetáculo de fortes emoções.
Fiquei sozinha na salinha esperando as tais contrações e nada. Sensores do coração do meu anjinho a todo vapor. Já os sensores de contração não tiveram muito trabalho naquela tarde.
Mandei torpedo para a Luiza que estava na Pró Matre. Desde ás 10:00 da manhã ela estava na mesma situação, ocitocina na veia, 2 cm de dilatação e contrações espaçadas.
A enfermeira encarregada dos meus cuidados aumentou depois de um tempo o volume de gotas de ocitocina no soro e me mandou caminhar pelos corredores. Estava morta de sede e perguntei para uma moça vestida com roupinha de hospital se eu podia tomar uma águinha! Um pouquinho que fosse!
Ela se vira para mim e diz:
- Não sei se você pode tomar água, eu não trabalho aqui, estou acompanhando uma parturiente que está no Delivery 2.
Aqueles olhos azuis enormes já tinham passado pelo registro do meu cérebro... Quem é ela? Quem é ela meu Deus ?
- Maira !!! Sou eu, Veridiana !!
-Oi Veri ! Você está aqui ? Como é que você está ?
- Com 5 cm de dilatação há dias, bolsa descolada desde antes de ontem e preparada para uma indução.
Maira Duarte é uma doula que defende o parto natural e acompanha o desenvolvimento de barrigas pela cidade. Assistiu ao espetáculo "Meu trabalho é um Parto" na estréia do União Cultural ano passado e me alertou sobre um médico que decidi abandonar no começo da minha gravidez. O tal Doutor tinha fama de não aparecer nos partos e deixar  mulheres sendo assistidas por plantonistas.
De uma coisa eu tinha certeza. Dr. Roberto jamais me deixaria parir na mão de outrem. Sua insistência em induzir meu parto não estava relacionada somente às suas preocupações e sim com o desejo real e nobre de fazer meu parto.
- Enfermeira! Dá um pouquinho de água para ela coitada. Água ! É água!
- Você está acompanhando a Fernanda Maira ?
- Estou! Vocês se conhecem ?
- O Marido dela foi meu último namorado antes de eu me casar com Galdino.
Eu estava adorando contar essa história para a equipe toda da maternidade. Não é todos os dias que parimos "ao mesmo tempo" que uma amiga na Pró Matre e a mulher do ex namorado na sala ao lado!
A enfermeira deixou meio copinho de plástico de água escondidinho na minha salinha e eu saciei minha sede voraz na volta ao espaço de pré parto. Coloquei em um canal de clipes norte americanos ridículos e comecei a dançar sozinha.
"Vamos ver se dançando alguma coisa melhora por aqui né Senhora Contração?
Ás 18:00 hs meu médico chegou e começou a explicar um monte de coisas que ele já havia me explicado milhares de outras vezes. Ele é muito engraçado em sua repetição. Disse que como eu já estava recebendo em meu organismo um volume alto de ocitocina, seria importante ele estourar minha bolsa para ver se meu corpo reagia melhor. Nesse instante Galdino entra na sala, acaba de ouvir as última explicações e munido da câmera registra meu médico furando minha bolsa e espremendo minha barriga para o líquido amniótico escorrer.
Detectamos ali que o volume de líquido havia diminuído muito de segunda para sexta. Meu coração recebeu naquele instante uma dose de alívio. Deixar entrar na quadragésima primeira semana me pareceu uma loucura ao ver menos de um copo de 200 ml numa espécie de comadre.
Comecei a sentir as contrações e achar divertido. A barriga endurecia e eu sentia um tipo de cócega.
"Que beleza ! Se continuar assim vai ser fácil"
Meu médico fez um exame de toque e detectou 7 cm de dilatação.
- O Delivery está sendo preparado para você Veri. Vamos tomar um banho na banheira de hidromassagem? Vai te relaxar e será bom para nós.
Da banheira de Hidro passei um torpedo para Luiza que fazia embaixadinhas no quarto da Pró Matre e recebi um telefonema da minha irmã mais velha, a Camilla:
- Você acha que vale a pena ir para aí Veri ? Estou saindo de uma reunião na Telefônica. Dá tempo ou já vai nascer?
-Ah Cã... Sei lá ! Vem aí! Devo estar com 8 cm de dilatação, estava com 7 agora pouco, Dr. Roberto disse que será rápido.
-E as contrações? Está sentindo muita dor ?
- Sabe que não Cã... Por enquanto está divertido. Vamos ver como será daqui para frente.
-Espera romper a bolsa para ver o que é dor.
-Mas já estou de bolsa rompida!
-Ah ! Então vai ser fácil! Tô indo para aí ficar com a mamãe.
Foi eu desligar o telefone que minha pressão caiu, fique tontona e tive medo de desmaiar. A água quente me deixou mole de mais.
Me tiraram da banheira e fui para a mesa de parto. 8 cm de dilatação!
Dr. Roberto e a enfermeira começaram a me ensinar como respirar. Diferente do que a Vilma havia me ensinado, fiquei confusa e não sabia o que fazer, se seguir a orientação do médico e enfermeira do S.Luiz ou da Vilma, a japa-maga dos partos naturais domiciliares. Personagem celebridade da última cena do meu espetáculo.
Vilma me disse que eu deveria respirar profundo nas contrações e quando elas passassem eu deveria segurar o ar e fazer força para que o nenê descesse em espiral o que ajuda a não precisar de episiotomia. O médico me mandou respirar três vezes na contração e na quarta segurar o ar por uns 30 segundos e forçar junto à contração.
Segui a orientação do médico e me decepcionei de cara comigo.
"Cadê o meu fôlego de nadadora, ex jogadora de Pólo aquático e 'atleta' que sou ?"
Não consegui segurar o ar nem por 20 segundos. Que fracasso!
Galdino mandou sua primeira pérola "Galdinesca":
-Relaxa Veri. O máximo que pode acontecer é você ter um aneurisma cerebral.
Eu tinha que avisar a equipe que conhecia as piadinhas do meu amor há quase nove anos e que aquele comentário estapafúrdio para a ocasião não me agredia, e assim fiz..
Dra. Renata entrou na sala. Ela é a mulher de Dr.Roberto e eles costumam fazer os partos juntos.
Todos em volta de mim.
Dra. Renata me aconselhou a usar as alças da cama para ajudar na força.
Comecei a ter super oxigenação no cérebro a cada contração/respiração e entrei em delírio. Nunca usei heroína, LSD nem Crack. Mas o que eu sentia me remetia a um tipo de alucinação que usuários de drogas pesadas relatam viver.
Quando eu voltava da "viagem" pensava: " Estou na maternidade S.Luiz, Ian vai nascer, estou na sala de parto, estou viva," e  via meu corpo tremendo, as pessoas me olhando com caras assustadas. Talvez não estivesse com caras assustadas, mas assim eu as enxergava o que me apavorava ainda mais.
Mas mais do que suas caras apavoradas, eu sentia medo de não voltar da tal  viagem.
Medo de abandonar de vez essa passagem e ir fazer companhia para a galera lá no céu.
Todos se afastaram da cama por um instante o que me proporcionou um certo conforto. Me senti menos cobrada , menos pressionada e quando senti mais uma contração chegar, respirei, prendi, forcei e fui parabenizada por Dr.Renata.
-Muito bom Veridiana1 Parabéns. Essa foi muito boa !
Estive ausente em "delírio" por mais 2 vezes e comecei a ficar muito assutada. Avisei a todos sobre o meu medo de não voltar e eles me aconselharam a aceitar a anestesia.
Se é para o bem geral da nação, diga ao povo que tomo !!!
Chegou o anestesista. Um homem simpático de 2 metros de altura, Brunão, que mais tarde viria a se tornar um rolo compressor sobre meu ventre na colaboração para a saída de meu anjinho.
Sentei na beirada da cama com as costas livres para a entrada da maior agulha do mundo.
Galdino mandou sua segunda pérola:
-Caralho Veri! Você não tem noção do tamanho da agulha!
Meu médico me fazia carinho e me tranquilizava enquanto eu, caída sobre minha barriga, mole, frágil, vulnerável ouvia ele dizendo que depois da anestesia tudo seria mais fácil.
Imaginando que Galdino seria recriminado por todos com seu comentário já o defendi dizendo que eu tinha visto uma foto da agulha no livro escrito por  Dr. Roberto. Estava consciente do que penetrava em minha coluna.
 A dormência proporcionada pela anestesia me troxe sensação de prazer mas me fez perder o controle de força. Tudo adormece, relaxa. A verdade é que é muito gostoso. Esse relaxamento todo deu a Galdino a chance de soltar mais um comentário bizarro-pérola-absurdo.
-Veri ! Seu cu tá parecendo uma couve flor!
Eu conseguia imaginar claramente a imagem do que estava se passando nas minhas partes baixas. E que baixas !!!!
Demos continuidade nas respirações a cada contração. Nem antes e nem depois da anestesia DOR foi o que senti. A sensação é de um profundo incomodo que se espalha por uma região grande de ventre e pernas. Dor é o que senti quando tive pedra nos rins, quando queimei meu pulso em uma catle em Londres com vapor d´água a 100 graus.
Aquele relaxamento todo me dava a impressão de impotência absoluta mas em várias contrações fui parabenizada pela Dra. Renata que estava mais confiante que seu marido no sucesso do parto "normal". Minha alma parece ter passeado pelo "Nosso Lar" e todas as cidades espirituais existentes e voltava. Eu me pegava com pensamentos que não tinham nada a ver com o que estava vivendo e que hoje já não sei mais reproduzir. Algo que estava guardado no meu inconsciente e que nunca mais terei acesso.
A cabecinha de Ian saia quando eu respirava e na inspiração para uma nova força ele voltava.
Ficamos nessa por alguns minutos com o Dr. Brunão sobre mim empurrando Ian com uma força de super herói até o momento que Dr. Roberto me avisou que ele precisaria de fórceps.
Eles chamam de fórceps de relaxamento. Os ossos da minha bacia são muito próximos e Ian estava posicionado de forma que meu próprio corpo impedia sua passagem. Para a posição que ele se encontrava existe uma nomenclatura que Dr. Roberto anotou em minha ficha hoje em consulta para conferir como está a recuperação da minha pele nos pontos da episiotomia.
Sim ! O serviço foi completo... Me fizeram o tal picote...
É lógico que não me lembro que nomenclatura é essa. Algo como "3M", "3 alguma coisa"...
Ouvir a palavra fórceps me apavorou. Ainda exite um preconceito enorme em relação ao "pé de cabra de xoxota" e eu percebi que fazia parte desse grupo de preconceituosos naquele momento.
-Fórceps Doutor...???
-Chamamos de fórceps de alívio. Não é para puxar o bebê pela cabeça, é para aumentar o espaço entre seus ossos e facilitar a passagem. Ele não vai sair. Você está sem força e seus ossos não estão ajudando. Ou você prefere uma cesárea?
A palavra cesárea me apavorou quádrupla, quíntupla, sêxtupla milhonésimamente mais que fórceps e isso me ajudou a fazer uma força monstra na contração seguinte.
Dr. Renata ficou mais confiante e chegou a dizer que Ian nasceria sem a ajuda do fórceps de relaxamento.
Mas Dr. Roberto disse a ela que NÃO! Que Ian estava bloqueado pelos meus ossos.
Foi dado um sinal de alerta. Dr. Roberto disse algo como "Preparar paramentos" ou instrumentos e como num terceiro sinal de um espetáculo que vai começar um circo foi armado sobre mim e na mesa de instrumentação no pé da cama. Um pano azul foi estendido sobre minhas pernas escancaradamente abertas no palco da "fábrica de parto", todos colocaram paninhos de proteção sobre a boca, vários instrumentos cirúrgicos entraram em cena como adereços estrategicamente pensados e elaborados pelo cenógrafo e figurinista, e permitiram então a entrada do cameraman da Publivídeo que ia registrar os momentos finais daquele espetáculo.
Me pediram para continuar fazendo a força e desta vez minha alma embarcou em uma viagem que parecia não ter volta e quando eu aterrissei e ouvi: NASCEU, ví a meu lado um ser que me pareceu muito íntimo todo envolto em sangue que prontamente foi levado pela enfermeira para a balança onde foi pesado, medido, limpo e analisado pelo pediatra- o mais novo integrante daquele elenco não muito emocionado já que a situação é corriqueira em suas vidas.
"Meu Deus, meu Deus , meu Deus, meu Deus eu não morri ! Obrigada meu Deus !!!! Meu filhinho nasceu... Cadê ele? Quanto tempo mais vão demorar para me dar ele? Quero dar mamá? Quero olhar para ele, quero beijá-lo, quero amá-lo, quero engolir , quero cuidar, quero, quero quero TUDO... Cadê Ian ?"
Um pouco mais ele já estava em meus braços, em minhas tetas, em minha boca, chupando meu queixo, cheirando meu hálito e reconhecendo os odores de quem daquele momento em diante irá alimentá-lo e amá-lo de uma forma que não há explicação.
Poeta, dramaturgo, roteirista,escritor algum nesse mundo foi, nem será capaz de explicar apenas com palavras o que é, como se sente e o que se sente ao pegar um filho recém nascido nos braços.
Palavras não são suficientes para esta tradução. Só é possível sentir...
E que esse sentimento me invada e me permita conferir a todo instante daqui para frente, cada batida do meu coração e do coração do meu "leãozinho" lindo, que numa sincronia coreografada que parece o corpo de baile de uma ópera de anjos e querubins, batem juntos fazendo meu peito pulsar e se emocionar a cada segundo dos meus dias que rezo a Deus para que tenham mais de 24 horas.
Que o tempo demore muito para passar para que eu possa aproveitar ao máximo cada mamada, cada xixi na parede, cada cocô na fralda recém trocada, cada suspiro entre os "tragos" no bico do meu peito, cada choro de manha, de fome, de gases, de carência, os sorrizinhos, os banhos, as noites mal dormidas ... ... ...
Ah ! sobre Luiza e sua Nina, Fernanda e sua Alice !!!
Nina nasceu 1:22 hs do dia 18 de cesárea depois de Luiza ter tentado absolutamente TUDO para o parto normal. Sua determinação e força colaborou para que Nina não chegasse ao mundo de supetão. Foi banhada por todos hormônios  participantes do show de um parto normal mas sua dilatação faltou na apresentação e não mandou  atriz substituta.
Alice chegou por volta das 6:30 da manhã do dia 18 depois de Fernanda receber também a famosa ocitocina sintética e a colaboração dos anestésicos venerados pelos aversos à dor, o que definitivamente não é o caso de Fê, que de terça dia 14 a sábado dia 18 viveu intensamente um nobre trabalho de parto. Úm Show é pouco! Seu parto foiuma ópera! Fernanda se livrou do 'picote' ! Diferente de mim que preferia não ter que passar por essa...
Parabéns a nós todas !
Cada uma com uma história e uma possibilidade, afinal cada corpo é único e apesar de "Nosso trabalho ser um Parto", eles nunca serão iguais.
Cada parto é exclusivo e tem sua graça e magia.
Agora vocês me dão licença... estou muito emocionada, chorando em prantos há muitas laudas e eu preciso parar para dar mamá.
Até o próximo post e muito obrigada por terem chegado até aqui, junto a mim, nesta "Partodisséia".



                                         Vídeo Parto do Ian:        http://vimeo.com/48044236